No moleskines around here... just plain old scrapbook!

segunda-feira, agosto 3

The International Youth Service

Gianluca Moschini: The International Youth Service

Porque quando menos esperares, apercebes-te de que não investiste o suficiente nessas amizades... e depois é tarde demais!

terça-feira, maio 5

where the FUCK is my talent?

não sei se a todos é comum esperarem ou desesperarem por algo que seja único e maravilhoso em cada um. bem tento fazer despertar esta faísca dentro de mim, mas a safada está confortavelmente abrigada e protegida e recusa-se a dar a conhecer-se.

qual será o meu talento?

terça-feira, abril 14

quinta-feira, março 12

O machismo dos dias de hoje

por Filipe Luís
in Visão (12-03-2009)

Réquiem por Carolina Salgado

Carolina sofre na pele o pior de todos os machismos: o das outras mulheres

A personagem da Aleivosa, cognome por que ficou conhecida a rainha D. Leonor Telles, depois de ter levado D. Fernando a mandar chacinar os líderes do povo que, nas ruas, tratando-a por "barregã", pretendia impedir o seu casamento com O Formoso, continua presente no nosso quotidiano. Ao longo dos tempos, foi tendo muitos e variados nomes e vestindo numerosas peles. Pode ser a vizinha divorciada do 7.º esquerdo ou a executiva bem sucedida lá na empresa. A aleivosa usa a astúcia como arma de defesa, é independente e anticonvencional, politicamente incorrecta, está perto do poder, tem as costas quentes. Beije-se-lhe a mão.

Se, porém, cai em desgraça, paga-as todas. Ela é a desforra ideal da panela de pressão de ressentimentos, invejas e recalcamentos da turba. Leonor Telles usou, num mundo de homens, a inteligência, a artimanha e a manipulação para sobreviver. A sua irmã, Maria Telles, vira a sua família desfeita e o marido morto, por causa da líbido insaciável e do ciúme patológico do rei predecessor,

D. Pedro, O Cruel. Mas ela, Leonor, estava precavida. Entregar-se-ia a D. Fernando, mas só em troca do poder total, nunca como mera concubina. Mulher indefesa, viria a ser uma das primeiras vítimas da revolução de 1383 e bode expiatório político de um reino em desagregação. Para o povo, D. Fernando - verdadeiro mandante dos crimes imputados à mulher, mas desresponsabilizado pela sua condição de homem -, fora apenas vítima.

A "ALEIVOSA" de hoje caminha, desprotegida, à porta de um tribunal, depois de cumprir um dever de cidadã. De testemunha de um processo, passa a ré do povo. Complacentes, dir-se-ia que concordantes - porque ela, afinal, tem o que merece -, as autoridades, tão brutas noutras ocasiões, fecham os olhos à agressão e ao vilipêndio. São vergonhosamente coniventes, sem que o poder político, o Ministério da Administração Interna ou o Ministério da Justiça esbocem um pestanejar. Esta mulher já teve as costas quentes, manobrou o príncipe, manipulou-o - ofereceu-se-lhe em troca do poder total. Falta imperdoável! Ela ocupou o lugar que era de outras, das sérias, das bem-comportadas, das fidelíssimas. Já nem são os súbditos do príncipe, os homens, os adeptos ou os hooligans quem a persegue ou abjura. São as súbditas, as mulheres, quem não lhe perdoa o indecoro nem a ousadia. São elas que realmente a odeiam, insultam e vituperam, a ela que se serviu da arma feminina mais poderosa - a da sedução -, a única que nunca poderão perdoar-lhe. Carolina Salgado não foi vítima das suas origens, nem é, sequer, culpada da sua traição ao reino do FC do Porto e ao príncipe Pinto da Costa, o papa. Que, como D. Fernando, não é mandante ou autor de qualquer crime, mas, desresponsabilizado pela sua condição de homem, apenas vítima. Não. Não é a culpa dos actos que persegue Carolina: ela está a pagar pelo facto de ser mulher. E a sofrer na pele os efeitos lusitaníssimos do pior dos machismos: o das outras mulheres.